Page 82 - Da Terra
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Tenho uma viagem marcada

                   O                                                                                                                                                       Não levo nada do que tenho
                                                                                                                                                                           Quando a dou não sei
                                             Sábio
                                                                                                                                                                           Só tenho o que cá deixei





                                                                                                                                                                           Naquele tempo, não havia lenha como há agora. Todos cortavam lenha para fazer o comer, para
                                                                                                                                                                           se aquecerem e para cozer o pão. Ora, um dia, um homem saiu para ir cortar lenha para acender

                                                                                                                                                                           o forno para a mulher cozer o pão. Preparou o burro e saiu de casa. Andou, andou, andou até que
                                                                                                                                                                           encontrou umas oliveiras. Subiu a uma delas, pôs-se em cima de uma tranca e começou a cortar.


                                                                                                                                                                           Nisto passou ali um homem que olhou para o que ele estava a fazer e disse-lhe:

                                                                                                                                                                           - Oh mestre, você quer cair cá em baixo. Então você está a cortar a tranca onde está

                                                                                                                                                                           sentado? Você assim vai cair!


                                                                                                                                                                           - Oh homem, você deixe-me da mão que eu tenho é de me despachar. Tenho a minha mulher
                                                                                                                                                                           à espera que está a acabar de amassar.


                                                                                                                                                                           - Vossemecê é que sabe, mas eu estou-lhe a dizer que você vem por aí abaixo!


                                                                                                                                                                           O homem não fez caso e con nuou a cortar e, tal como o outro lhe dita dito, veio cá parar ao
                                                                                                                                                                           chão. Levantando-se meio dorido, pensou:


                                                                                                                                                                           - Este homem é bruxo. Só pode! Então se ele adivinhou que eu ia cair daqui abaixo
                                                                                                                                                                           também adivinhará quando é que eu morro.


                                                                                                                                                                           Agarrou na corda das correias do burro e foi atrás do homem.


                                                                                                                                                                           - Oiça lá, você é bruxo, não é? Você há-de me dizer quando é que eu morro!

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